Sala vazia de paredes brancas
Ecos de silêncio longo e eterno
Perturbações que ameaçam quebrar
O ar sereno de tanta quietude.
A sombra não consegue trajar as mesmas cores,
Aumentava a um ritmo leve e suave;
O seu vulto inundava a par e passo
A tonalidade alva das paredes,
Que se envolviam calmamente na bruma,
como o os raios do Sol se escondem nos recantos da penumbra.
Embora estivesse aprisionada,
Afigura debatia-se e esperneava e,
Por fim, conseguiu desabrochar.
As suas leves vestes encarnadas
Inundaram o panorama neutro
Tal gritos como lâminas cortantes
Naquele pequeno reino de vida
Onde nascia uma cor, uma chama
E, embora prevalecesse um clima
De tranquilo silêncio eterno, era
Como que uma palavra solta o aroma
Que ela delicadamente exalava.
Tal sinestesia de sensações
Despertou a sala do longo sono,
Deleite de um olhar apaixonado,
Face embevecida de alguém que sonha.
A sombra tentava imitar o rosto.
Mas apenas a sombra se igualava.
Assim, continuava a ser apenas
Um mero esboço nas paredes brancas,
Não se sentindo o seu doce perfume.
Era inútil continuar a existir
Ninguém dava pela sua presença,
Ou consideravam-na uma miragem,
Ignorando-a, não intencionando
Serem dignos da fervente loucura.
Se esse rascunho desaparecesse,
Também a flor desapareceria,
Pois seria incapaz de existir sem a sua projecção.
Por isso, podemos, por vezes,
Pensar que somos insignificantes,
Mas só nós podemos
Escrever páginas na nossa vida.
A vida não teria nexo sem a nossa existência,
Sempre que alguém se sente inferiorizado
Em relação a outra pessoa,
Tem que ter consciência que,
Apesar de estar projectada e não exibir pétalas definidas,
Também desempenha um papel importante no teatro da vida
De facto, não seria possível enfrentar a ribalta
E atingir a meta da felicidade estando sozinhos.
Para contracenarmos no palco a nossa parte,
Não basta um público ou audiência,
Mas sim outros actores que interajam no nosso plano,
Pois dentro de nós existe sempre um pouco dos outros,
Talvez porque seja o que manda a lei da vida,
Ou talvez porque guardamos recordações de outras pessoas
No nosso velho álbum de fotografias,
Que se encontra dentro da gaveta do nosso pensamento.
A sombra limita-se a seguir as pegadas,
As coordenadas do outro elemento, mas, mesmo assim, ´
Só ela transmite o significado da vida
Em função da simplicidade e valor,
Pois embora a rosa indique algum norte específico,
Ao sermos a sombra podemos escolher talvez um sul e,
Consequentemente, sermos senhores da nossa vontade.
O vulto representa aquilo que as coisas são,
E não uma mera distorção da realidade.
Apesar das suas texturas e rubros brilhos,
A aparência surge diante dos nossos olhos
Como uma máscara de ilusão que não nos deixa observar
O que se encontra envolto nessa capa de mistério.
Só na sombra podemos trilhar o nosso caminho
E desvendar os enigmas ocultos,
Essas pétalas superficiais vermelhas que nos ofuscam o olhar
E não podemos ser espectadores passivos
Temos que enfrentar o invólucro exterior,
Ao ponto de não nos deixarmos influenciar por ele,
Receando acreditar em palavras fáceis
Que não traduzam o verdadeiro enunciado da vida
Com todas as letras, vírgulas e pontos
A essência da vida reside na sombra que,
Aos olhos penetrantes e vastos de um ser atento,
Nos permite comandar o destino.
A rosa não se move, apesar de
Parecer deslizar no plano no
Preciso momento em que desabrocha
Numa miragem se apresenta imóvel,
Consoante o sol da sua vontade
Razão de ser, de existir, e de viver...