Thursday, July 13, 2006

Je ne sais pas

A felicidade já teve um nome,
A beleza, um rosto,
A vida, significado.
Já existiu a liberdade e eu já pude rir.
Agora vagueio perdida pelas ruas desertas da amargura,
Sem luz para guiar os meus passos
Tento abraçar os sonhos mas permanecem inalcançáveis,
Longínquos ao meu olhar.
Lavo os olhos,
E deixo de seguir em frente…

És o Sol

Quando ergues um olhar atento
Através dos baços vidros de uma janela,
Podes não contemplar o sol,
Mas esqueces-te que os outros vêem a luz no teu olhar.
Um pássaro voa perto de ti,
Desejas ser livre como ele;
Começas a chorar…

Há alguém que consegue sentir a tua tristeza!
Ao emanares luz para os outros,
Percebes finalmente que estás sozinho.
A tua chama arde lentamente,
Embora te sintas na bruma.
Mas se olhares para dentro do teu doce coração,
E abrires essa janela,
Apercebes-te de que és o sol.
Todas as estrelas necessitam do teu brilho
Para arderem vivamente.
E um dia vais encontrar a estrela especial,
E sentirás desabrochar na essência do teu ser
Uma outra chama,
Que se chama
Amor..

Varanda branca

Banco de granito gasto pelo tempo,
Rua pouco movimentada
Que exibe um número pouco variável de cores.
Paralelos cor de tijolo assentam em fila,
Desenhando encruzilhadas paralelas e perpendiculares.
No plano de fundo, vislumbra-se uma varanda,
Varanda com brancas grades.
Que parece cortar o ar pesado que exala este ambiente.
Está só, e eu também

Sinto-me assim
Uma grade pintada de branco,
Já por várias vezes pintada.
No fundo não passo mais do que um bocado de ferro velho,
Mas ousam cobrir-me desta tonalidade alva,
Até ao ponto que padece,
E começa a escurecer,
E de novo a aclaram,
Como se se tratasse de um jogo.

Não gosto que brinquem comigo assim!
Não sou um baralho de cartas por onde se possa escolher
Não sou um puzzle com peças de ordem pré-definida.
Não sou um jogo de computador controlado com o dedo humano e a mão de progresso.

Sou algo mais,
Algo que transcende a brancura fina das grades da varanda
E ainda assim, não deixo de ser eu mesma,
E de me sentir assim, só…
Abandonada ao vento da rua de paralelos cor-de-tijolo
Onde nem sequer cantam os pássaros…
Nem sequer eu posso cantar
Pois ninguém me ouviria…
Estou só!

Carpe Diem

Aprecia cada gota de vida…
Pensa que algum dia será o último…
Consomes dia após dia avantajadas porções de existência
Mas vida, népia…

Ela escorre lentamente como grãos de areia pelos dedos,
Mas sua duração é um mero segundo…
Cada gota é imiscível com a seguinte,
E a anterior com a derradeira…

É uma questão de sentido dúbio…
Tanto é como não é…
Lentamente penosa, ou com um fulgor acelerado
E nós, meros espectadores,
Fantoches, digo…

O que escrevo hoje não tem sentido,
Talvez amanhã seja mais explicável,
A vida também escreve em nós,
E as suas metáforas, por vezes, não têm nexo…

É inerente ao decorrer das coisas
A vida é paralela ao existir,
Não por ter a mesma direcção,
Mas não se cruza…

E aqui estou eu sentada
Sem dar gozo ao que chamo de vida
Nesta insigne existência que me prende como uma corrente

Reserva apenas as memórias que te mantêm desperto…
A vida é feita de todos os alicerces e pedras…
Não tentes pontapear uma pedra para longe…
Desabarás sobre ti mesmo…

Recorda todas as tuas emoções, carícias
Abraços, beijos, mãos, sorrisos, olhares
Pois só assim conseguimos ser livres…
Carpe diem…
Onde, no batimento do coração, o amor se sente?!
Onde, por entre palavras ditas, reside a verdade?!
Entre vários caminhos, qual deles nos reserva e destina mais felicidade?!
É no final deste ou no início do próximo?!
Onde, na pele, a beleza é contida?!
Onde tocamos o coração das pessoas?!
Onde no sangue há vida para ser encontrada?!
Na válvula ou na veia?!
No coração ou no pulso?!
Talvez a resposta permaneça no olhar,
Mas nunca certamente nos locais onde estivemos…
A distância é algo infinitamente indefinível…
Não se sabe, apenas se sente,
Ou talvez não exista,
Ou talvez seja outro lugar que ninguém possa visitar…

É chama que vive,

É vida que arde,

São metades que necessitam de se fundir…

São pensamentos paralelos

Que se cruzam, por vezes,

Mas passado esse breve, insignificante momento,

Voltam-se a separar.

É chama que vive,
É vida que arde,
São metades que necessitam de se fundir…
São pensamentos paralelos
Que se cruzam, por vezes,
Mas passado esse breve, insignificante momento,
Voltam-se a separar.
A felicidade já esteve viva,
Já tive a outra metade,
Já partilhei o meu amor,
Já estive do seu lado,
Uma vez senti que tudo encaixava
Mas tudo o que tinha acabou num flash.
O destino tinha, talvez, outros planos
E agora, tudo morreu,
A felicidade, o amor,
Todas as memórias…
A felicidade já esteve viva,
Já tive a outra metade,
Já partilhei o meu amor,
Já estive do seu lado,
Uma vez senti que tudo encaixava
Mas tudo o que tinha acabou num flash.
O destino tinha, talvez, outros planos
E agora, tudo morreu,
A felicidade, o amor,
Todas as memórias…

Algo que nunca existiu

A forma como a tua perfeita indiferença
Mostra a tua indiferente perfeição
É como vidros estilhaçados em meu redor…
Talvez vítreos sejam os meus olhos,
Cegos pelo brilho de algo que nunca existiu,
Tentando sempre alcançar essa fria esperança vã.
De vidro também é a fragilidade em que estou submersa
E tu, talvez também estejas submerso nos meus sonhos,
Imperfeitos sonhos esses que abalaram algo que nunca existiu.
Sólidas paredes que escondem segredos,
Solidão de quartos caiados de branco,
Imagem que vai em gotas e revela memórias
Vozes que serenam, surgindo subtis, selvagens,
Desenhos de traços de vida na existência.
O mistério fica por resolve,
O puzzle fica sem peças,
A historia não é contada,
A equação permanece indeterminada.
Nada tem fim,
O fim é um nada
Alheio e moribundo à minha vontade!
Baila um sorriso no rosto,
Bem por baixo do seu nariz,
Também os desejos rodopiam em círculos,
E as memórias não são mais do que anéis de vapor.

Sentir, sonhar, desejar

Sentir…
Sonhar…
Desejar…
E, jamais, possuir.
Os sonhos são escorregadios,
Os sentimentos transparentes,
Os desejos derivam da loucura…

O tempo urge

Empalidece o amarelo dos bancos de jardim,
Despem-se as árvores,
Já não era mais a menina de dentes metálicos
Que tocava piano no rés-do-chão esquerdo.
Esperneava em busca concertada da evidente resposta fugaz
Que tem pressa, mas também tempo,
Tentando em vão atingir o âmago da questão,
Descobrir por que razão a sua razão se fora,
Como a esperança que se desmoronou,
Tornando frios os seus quentes olhos cor de âmbar.
As lágrimas percorrem-lhe continuamente a face
Agredidas gravemente por um som agudo de carácter versátil,
Inconstante mistela de vontades com saudades,
Desejos com lembranças.
A demência exala um aroma de juventude perdida
A sanidade já não é um direito, e sim um privilégio,
O tempo urge…

Rio d’Ouro

Imponentes castelos mouriscos,
Azeitonas sobre brutos montes,
Assim eu os vi,
Sulcos vociferantes que afluem no rio Douro (num rio de ouro),
Qual mão calejada levada ao rosto,
Pele escura crestada pelo sol de Agosto!
Envelhecida pelas jornadas diárias!

Melros rasgam o céu agreste
Plainando a aurora e o sol poente,
Marcha imperial de vimes e gentes,
Cestos de danças e romarias várias,
Lagar de suor, uvas de esforço,
Tremendos bombos soando,
Doce mosto que vai correndo em direcção ao atlântico,
Por entre o verde vale das controvérsias…
Que não se sabe se é verde,
Se púrpura,
Ou ainda, se d’Ouro.

Esquece tudo o que aconteceu

Esquece tudo o que aconteceu,
Confia em mim outra vez,
Desta vez eu prometo importar-me
Sempre que estiveres a cair
Gritarei o teu nome
E dar-te-ei a mão,
Mas…
Se os meus dedos pregarem peripécias,
E escorregares,
Esquece tudo o que aconteceu,
Confia em mim outra vez.